4 Elementos do grupo Ciclismo 2640 decidiram fazer uma travessia que lhes ficará certamente gravada na memória.
Para todos os outros que não tiveram oportunidade de fazer o caminho fica o rescaldo, de modo a que consigamos "beber" um pouco da sua aventura e deliciar-nos com uma bela prosa velocipédica.
Caminho de Santiago, a crónica por João Aldeano.
Porque fazer o caminho? A ideia de fazer o Caminho já a tinha á muito na cabeça, era uma aventura que estava agendada para fazer um dia, não sou católico praticante mas estimo aqueles de quem gosto e fazer o Caminho serviria de homenagem aos meus avós.
Ao ver no blog em Maio o post alusivo ao tema pensei,” porra a data não dá para min”, mas afinal as datas estavam erradas, a jornada programada pelo Nuno era em Junho e não em Julho, confirmadas as datas com o Nuno, comecei a tratar das coisas, sim porque eu gosto de ter tudo certinho.
O percurso estava escolhido pelo Nuno, tratava-se do Caminho Sanobrés ao qual se juntaria parte da Via da Prata no início, a partida seria em Zamora para chegarmos 4 dias depois a Santiago de Compostela, bicicleta tinha, mas faltavam mais coisas. Como levar as coisinhas para fazer a viagem? O Nuno falava me em levar mochila às costas, mas mochila para min não dá, sofro das coluna e consigo sempre arranjar muita tralha para levar comigo, não sei como os meus sacos de viagem são sempre maiores que os dos outros, tratei por isso de arranjar uns alforges e suporte para os mesmos, fiz a encomenda a tempo e horas mas chegaram dois dias antes da data de partida (stress…).
Na sexta dia 17/06/2011 recebo um telefonema do Nuno, existiam dificuldades em conseguir transporte de comboio para os quatro mais a “bikes”, esta deslocação seria entre Compostela onde ficaria o carro e o inicio da jornada em Zamora, face a estes problemas o Nuno informa- me que existe uma segunda hipótese mas que implicava mais km, ao que respondi, “ força com isso”, optamos assim por alugar um carro que nos serviria para a deslocação entre Santiago de Compostela e o novo local de partida que seria Salamanca, teríamos assim mais uns km da Via da Prata para percorrer, tínhamos inicialmente previsto fazermos 410 km mas viriam a ser uns bem puxados 497 km.
Dia 1
Dia 18/06/2011 pelas 10h00 da manhã eu o Nuno começamos a carregar o carro que nos levaria aos quatro (eu o Jonas o Nuno Mano e Mário Mano Jorge) até Santiago de Compostela onde no Aeroporto local iriamos levantar o carro alugado que nos levaria para o ponto de partida da peregrinação, conseguimos acabar esta tarefa perta das 12h40 (não foi fácil), com muita perícia e engenho á Tuga lá (enfiamos) tudo dentro da Opel Astra do Nuno, até nem ficou mal arrumada porque ainda existia espaço para o gato do Nuno que teimava em entrar para dentro da Astra.
Fomos almoçar e combinamos encontro para as 13h30 para sair em direcção a Santiago.
Às 13h45 lá toca a buzina, tenho a rapaziada á porta de casa para partirmos, na parte de trás seguem o Mário e o Jonas (mal se viam no meio das rodas) e a co-piloto vou eu mais uma rodinha da frente que atrás já não cabia mais nada, a condução para já ficava a cargo do Nuno.
Apanhamos a A21 depois a A8 em direcção a Lisboa, antes de Loures apontamos á A1 em direcção ao Porto, pelo caminho íamos trocando de lugar e parando para beber uma água ou um cafezinho, às 18h00 estávamos a entrar em território de “nostros hermanos” dai a mais um pouco chegamos a Santiago, fomos directos ao Aeroporto onde tínhamos o carro de aluguer para levantar. Depois de alguma procura lá demos com o balcão da Europcar, enquanto eu e o Nuno tratávamos da papelada o Jonas e o Mário tomavam conta do parque de estacionamento… e assustavam uma pobre coitada que nem do carro saia.
Com a papelada e a chave na mão á fomos á procura da Peugeot Partner que nos iria levar a Salamanca, minutos depois encontramos a dita cuja, cinzenta e quase nova á estriar.
Altura de mudar a carga da Astra para a Partner e mudar para a “farda de serviço” para podermos seguir viagem, o que fizemos logo depois de deixarmos a Astra perto da Estação de Camionagem de Santiago. Saímos às 21h00 em direcção a Salamanca usando para isso a Autopista AP53, A52, N631, N630 e por fim a A66 até ao destino, quando estávamos com cerca de 01h00 de viagem decidimos que era melhor jantar doutra forma seria para esquecer a dita refeição, entretanto já tínhamos ligado para o “Albergue” Hotel Ibis de Salamanca para reservar uns quartos para a rapaziada, depois de um belo jantar no (qual estava incluído uma maravilhosa tarte de queijo que o Nuno não provou por estar de dieta),
, voltamos á estrada para chegarmos ao destino quando eram 03h30 de dia 19/06/2011, tratamos do check in com a empregada do Hotel que ficou admirada por termos chegado muito cedo, subimos aos quartos e cama, mas antes ainda tomei um belo duche.
Dia 2
Dia 19/06/2011 alvorada às 08h00, primeiro dia de Caminho, a opção foi tomar o pequeno-almoço logo no Hotel e revelou ser uma boa opção, tínhamos um pouco de tudo em quantidade aceitável, isto até nós nos chegarmos, de repente acabou tudo sabe-se lá porque…
Bem comidos e bem bebidos lá fomos pagar, fomos depois procurar a carrinha para a irmos entregar e montar as bicicletas para nos pormos a caminho o que conseguimos fazer cerca das 10h55, tínhamos um atraso considerável para recuperar.
A montagem das bikes revelou-se algo morosa, em particular a minha, tinha de colocar o suporte para os alforges que transformaria a BEONE numa autêntica “Africa Twin” e certificar-me que a coisa ficava bem montadinha porque a jornada previa-se dura, o peso a transportar nos alforges era considerável.
Arrancamos finalmente em direcção á Catedral de Salamanca (Convento San Esteban), mas só depois de tirarmos a foto da praxe no ponto de partida desta epopeia, a Estação de caminho-de-ferro local, contamos para isso com a gentil colaboração de uma “xica” local
Chegados á catedral de Salamanca o Nuno parte em busca do primeiro carimbo para ser colocada nas nossas credências de peregrinos, documento que no final iria comprovar o Caminho por nós percorrido, enquanto isso nós os três ( Mário, Jonas e Eu ) lá íamos disparando a tudo o que mexia, entretanto o Nuno regressa com a credencial devidamente carimbada, mais umas fotos e seguimos caminho pela cidade de Salamanca, até darmos com a praça histórica da Cidade que é património da humanidade desde 1988, a palavra para a descrever é simplesmente “ magnifica”,
motivo mais que suficiente para mais uma sessão de fotos com o que viria a tornar-se habitual ao longo do Caminho, entretanto o Jonas vagueava pela praça de bike apreciando as belas “paisagens “ …chamava-se o homem porque estava na altura de seguir jornada e sair de Salamanca bonita cidade que vale a pena visitar com pormenor pelo que certamente irei voltar.
Com o auxilio do Garmin e com as marcações em local do Caminho facilmente saímos da cidade e entramos em trilhos de terra batida que não tinham grande dificuldade técnica e com relevo pouco acidentado, a única dificuldade que começamos a sentir logo á saída de Salamanca era o tremendo calor que se fazia sentir e a juntar a isso a monotonia de uma paisagem que pouco ou nada mudava com a passagem dos km, lá fomos passando por pequenas localidades e por alguns pontos de interesse onde a paragem para a “foto” era obrigatória.
Aproveitando sempre que parávamos para abastecer de água e Aquários (segundo o Nuno é a bebida oficial do Caminho) chegamos a Zamora cerca das 14h35 com 72 km percorridos e 03h58 depois de termos partido de Salamanca, paragem á entrada da cidade para mais fotografias á beira-rio para de seguida subir ao centro e paragem para almoço, antes paramos no posto de turismo local para nos colocarem mais um carimbo nas credenciais. Enquanto o Nuno tratava da questão dos carimbos o Mário aproveitava para pousar junto a uma armadura medieval que se encontrava á entrada do dito posto, tratada que estava a questão do carimbo lá fomos á procura do merecido almoço, quando chegamos á zona dos comes e bebes já eram 16h00 e arranjar almoço era missão impossível, conseguimos arranjar um restaurante que tinha umas tapas e a coisa teve de servir, paramos, estacionamos as “burras” e tratamos de mandar vir as ditas tapas para beber água Coca-Cola e claro Aquários, enquanto íamos despachando as tapas e mandando vir mais, lá nos íamos lamentando do calor e do que ainda faltava percorrer até chegarmos aos destino do dia a localidade de Tabara. Terminado o almoço e feitas as contas tínhamos completado até ás 16h00 duas etapas das quatro que tínhamos planeado percorrer neste primeiro dia, o calor continuava a não dar tréguas mas era necessário continuar saímos de Zamora faltavam cerca de dez minutos para as 17h00, pouco de depois de estarmos a pedalar apanhamos no Caminho um pequeno grupo Espanhol que também efectuava a peregrinação em bicicleta, para o Mário isso significava “ competição “ tratou logo de passar “nostros hermanos” a todo o gás e levou um na roda cá atrás entre risada e conversa assistíamos á disputa entre o Mário e o novo “amigo” continuou durante alguns km, até que aproveitando uma descida decidi acabar com aquilo e passei por eles com a minha “Berlier”, no topo e rectas seguintes mantive a passada forte e apenas os nossos vieram na roda de “nuestros hermanos” nem sinal, até á localidade seguinte o ritmo seria sempre alto apesar das dificuldades que o calor provocava com temperaturas bem acima dos 35 graus, os km iam passando de quando em vez lá surgia uma ou outra povoação onde apenas nos cafés se encontrava alguém, chegavam as 19h00 altura de efectuarmos mais uma paragem para repor líquidos (Água, Coca Cola e Aquários), por esta altura tinha uma perna com uma zona bem vermelha perto da marca dos calções que eram mais pequenos em relação ao que é costume utilizar, os lábios estavam completamente queimados e com “ cortes “, nesta altura começava eu a queixar-me de dores de cabeça (enxaquecas, situação que comigo infelizmente é normal), em relação ao resto do pessoal o Mário tinha os lábios também em mau estado, o Jonas e o Nuno tal como o Mário começavam a queixar-se do ”rabiosque”, as horas de selim já se faziam sentir.
A paisagem percorrida até esta altura tinha sido agreste, sem sombra, sem vegetação, eram rectas e rectas com pedra solta e ligeiras ondulações,
aqui e acolá com alguma areia que me fazia dizer raios e coriscos, porque a minha “ burra “ não estava propriamente vocacionada para esse tipo de piso, afundava logo e provocava a minha demora na transposição deste tipo de terreno em relação aos restantes.
Pouco passava das 19h00 terminam as etapas da Via da Prata (Via de La Plata) inicia-se a entrada na primeira etapa do Caminho Sanabrés que iria ligar Granja da Moreruela á localidade de Tábara onde iriamos ficar a passar a noite, por esta altura já só pensava em chegar tomar um comprimido para as dores de “ tola “ e deitar-me. Entretanto com a entrada no Caminho Sanabrés começava a registar-se uma alteração na paisagem, com o relevo a ser mais acidentado e a vegetação ao longo do Caminho a ser mais abundante, aqui e ali surgia um ou outro ponto com mais areia no trilho, acabamos inclusive por ultrapassar uma descida algo perigosa com bastante inclinação e pedra solta que eu a muito custo ao contrário dos restantes lá consegui passar montado na “bichinha”, por breves instantes lá deixamos os caminhos de terra e entramos numa estrada alcatroada, passamos uma ponte e começamos a ultrapassar mais uma subida, o Mário como em grande parte do Caminho seguia um pouco mais á nossa frente, nesse momento passa um carro de Bombeiros que ao verem que éramos Tugas (pela bandeira na bike via-se bem) começaram a entoar pelo sistemas sonoro do veiculo “ animo, animo… “ como a malta não aumenta a passada alteraram a mensagem para “ força caral…pi…pi…pi…” risada geral, eu já não tinha muita vontade de rir e dizia para o Jonas, “pá tou farto de bike, doí-me a tola como a porra”, mas com custo lá ia seguindo atrás dos outros, chegamos então a uma pequena localidade a 8km de Tabara, aproveitaram o Nuno e o Jonas para comerem qualquer coisa num café local enquanto o Mário se refrescava numa fonte que existia no largo principal, eu tratei de me por á sombra e esperei pelo pessoal, nesta altura já nem conseguia ver bem as dores de cabeça estavam cada vez piores, passados dez minutos lá voltamos a retomar a marcha, eu ia literalmente a arrastar-me atrás da ultima roda que via, finalmente um pouco antes das 21h00 chegamos a Tabara onde um habitante local nos alerta para a chegada tardia, nada que nós não soubéssemos, tínhamos acabado de percorrer 127km trilhos em 07h07, a rapaziada com o Nuno nos comandos tratou de rapidamente arranjar local para dormir e jantar, por esta altura já estavam todos preocupados com o meu estado de saúde, quando chegamos tratei logo de me deitar no chão em frente a um café restaurante, o Nuno tentava negociar o melhor preço com a senhora que geria o espaço, eu ia apanhando algumas palavras enquanto continuava deitado no chão com receio de começar a vomitar (algo que me acontece com frequência quando estou com enxaquecas) e não conseguir jantar o que me impediria de repor energias para o dia seguinte, entretanto o Nuno acaba as negociações com a gerente do restaurante e ficamos mesmo por ali, eu dava graças porque assim podia finalmente tomar a medicação que tinha algures na bagagem, deitar-me um pouco e tentar recuperar para ver se conseguia jantar, lá fomos até ao local onde iriamos dormir com o pessoal a ajudar nos transporte das minhas coisas porque eu mal conseguia andar. Chegados aos quartos tomei de imediato a medicação e deitei-me por cima da cama, a rapaziada tomou banho e foi jantar combinamos que se eu não conseguisse aparecer no restaurante me traziam alguma coisa para eu tentar comer, mas uma hora depois de ter tomado os medicamentos a dor de cabeça começava finalmente a aliviar e lá ganhei forças para tomar um valente banho e juntar me ao pessoal para jantar já estes iam nas entradas, acabamos a refeição eram 23h00 pelo que fomos de imediato para os quartos dormir, o dia tinha sido bem longo.
Dia 3
Dia 20/06/2011 a alvorada foi às 06h30, em relação ao dia anterior ficou para trás a minha dor de cabeça e parecia que estava novo, no entanto as mazelas do sol estavam em quase todos, com pele vermelha aqui ou ali e os lábios queimados em alguns, que era o meu caso, tínhamos combinado às 07h00 ir buscar as máquinas que ficaram guardadas numa casa em frente ao sitio onde tínhamos jantado, acabamos por passar por lá mais tarde depois do pequeno-almoço, saímos para a jornada deste dia às 08h26 o objectivo seria chegar á localidade de Lubián ou ficar o mais próximo possível. Demos inicio á jornada e á medida que fomos pedalando constatamos que a paisagem mudara, existia agora mais verde, mais água, mais vegetação, parecia que pedalávamos num ambiente que nos era familiar o vale do Rio Lizandro embora o relevo fosse diferente porque na nossa terra a coisa é mais acidentada, quando já levávamos cerca de uma hora de Caminho passamos por um choupal que deixou o Nuno maravilhado o homem não resistiu a tirar umas quantas fotos,
umas sessões de fotografia e alguns km mais á frente e chegávamos às 10h00 da manhã, o calor voltava a apertar, entramos numa pequena povoação ( Olleros de Tera ) das muitas por onde passa o Caminho, damos de caras com uma pequena feira montada no largo da igreja com apenas uma vendedor e onde três habitantes locais faziam as suas compras ao som de Michael Jackson que ecoava no sistema sonoro da carrinha do dito vendedor, o Jonas não devia de gostar do som e passa directo os restantes param para tirar mais umas fotos e vídeo, o Mário entusiasmado com a animação do local chama de imediato o Jonas para se juntar á malta. Feitas as “compras” seguimos de novo viagem para parar minutos mais á frente numa Igreja muito ao estilo do Oeste Americano,
de imediato trata de montar o tripé para mais umas fotos enquanto a malta se prepara, depois de preparar a máquina vou para junto do pessoal, nesse instante chega um grupo de quatro Espanhóis que quase passam por cima da máquina que estava montada no chão, foi de tempo de acenarmos e apontarmos para o chão para que não ficar sem máquina…
Nuestros Hermanos depois dos cumprimentos habituais “ Bom Caminho “ seguem viagem, mas rapidamente nos voltaríamos a encontrar um pouco mais á frente porque o nosso ritmo de progressão apesar das paragens para fotos era um pouco mais elevado, pouco de depois de termos passado o grupo de Espanhóis nova paragem para fotografar a paisagem em frente tínhamos uma barragem e uma bonita albufeira, lá somos de novo passados pelos peregrinos Espanhóis que seguiam na sua marcheta e param também eles mas um pouco mais á frente mesmo por cima da barragem onde nos voltaríamos a cruzar quando passamos de novo por eles e entramos num caminho rural que seguia pela margem da barragem, as temperaturas continuavam altas e quando nos surgiu uma pequena margem da albufeira á beira do caminho o Mário pediu logo para pararmos para poder lavar a cara, não precisou de repetir paramos de imediato deitamos as “burras” e fomos directos á água,
o Nuno muito zeloso dos equipamentos só dizia “ não molhem as carneiras, não molhem as carneiras… “ mas foi sol de pouco dura porque eu tratei de me enfiar debaixo de água para me refrescar e logo fui seguido por todos mas o Jonas foi cuidadoso porque antes ainda tirou o equipamento que tinha vestido, estávamos nós em pleno banho quando somos de novo brindados com a passagem dos peregrinos Espanhóis que olham para nós riem a bom rir e dizem até já o que de facto viria a acontecer, entretanto nós continuávamos a bela banhoca e podíamos constatar que os sapatos SIDI e Specialized se adaptam perfeitamente ao meio aquático dando umas belas barbatanas.
Refrescados era altura de retomar o Caminho e com a vantagem de não ser preciso secar porque o calor iria tratar de a secar, foi só esperar que o Jonas voltasse a vestir a roupinha e lá estávamos nós de novo em marcha, poucos km depois a história repetia-se lá estávamos de novo a passar pelo grupo de Espanhóis que deviam pensar que nós éramos malucos, passado pouco tempo chegamos á localidade com o nome de Rio Negro Del Puente , aproveitamos para repor líquidos e para obter mais um carimbo e claro mais fotos. Repostos os líquidos lá voltamos de novo ao Caminho era necessário avançar o mais possível antes de parar para almoçar o que viríamos a fazer cerca de uma hora depois.
Terminado o almoço e depois de bebermos o nosso cafezinho seguimos viagem e uns km mais à frente surgia uma zona densamente arborizada onde o trilho estava cheio de lama e dificultava a progressão em particular a minha demorou algum tempo mas passou-se, pouco tempo depois iriamos rever o ” modo racing “ do Mário, após uma sessão de fotografias e paragem para fins higiénicos da minha pessoa e quando efectuávamos a transposição de um pequeno ribeiro somos alcançados por um peregrino Espanhol com uma “mula” idêntica à minha mas menos carregada, o Nuno rapidamente obtém a informação que o peregrino é natural de Sevilha, o Espanhol segue na nossa companhia até que se instala o espírito “racing” no Mário o qual decide passar á frente do homem com uma manobra um pouco mais radical, os Km seguintes são feitas um pouco acelerados até que a corrente da minha bicicleta decide ficar torcida e presa na pedaleira e na mudança da frente pelo que foi necessário parar para proceder á reparação da avaria o que foi feito tendo o “Sevilhano “ seguido viagem. Reparada a avaria voltamos a retomar a marcha por mais uma hora até alcançarmos a próxima localidade (Puebla de Sanabria) banhada pelo rio Tera e onde se pode observar um belo e imponente Castelo sobre uma das margens,
Era para se comer qualquer coisa para repor energias e fazer o ponto de situação sobre o percurso que ainda era possível percorrer até ao final do dia o que fizemos aproveitando um pequeno espaço verde existente na margem do rio.
Foi decidido percorrer mais alguns km até Requejo e terminar ai o dia, esta forma poderíamos atacar frescos logo pela manhã o “pequeno caramelo “ com 1345m de altitude que tínhamos de transpor para chegar á localidade de Lubián. Saímos então de Puebla de Sanabria pela frente mais 12 km até chegar ao destino do dia, inicio por estrada onde aproveitamos para impor um ritmo mais intenso, uns km depois viragem á direita entrada num belo trilho sempre a subir onde infelizmente viria a perder a bandeirinha que transportava na “burra” o ritmo forte pela subida acima e a passagem em zonas cheias de arbustos acabou por partir o suporte plástico da bandeira TUGA, quando se acabou a subida reagrupou-se as tropas para a entrada em Requejo onde logo á chegada um casal nos deu as boas vindas depois de breve conversa ficamos a saber que o marido é Português e mulher Espanhola residiam na localidade e indicaram o Albergue Cerviño onde viríamos a ficar nesta noite, a jornada terminava cerca das 18h45 com 108,5km percorridos, altura então de arranjar lugar para dormir no Albergue, arrumar as “burras” e tomar uma bela banhoca para podermos ir á procura do jantar. Entramos no albergue, as camas ao estilo de camarata da tropa já estavam em alguns casos ocupadas por outros peregrinos, pelo que nós tivemos de procurar lugar para os quatro entre as que estavam disponíveis, lá escolhemos as ditas, eu e o Jonas escolhemos as camas de cima o Nuno e Mário as de baixo, o Mário ficou paredes meios com um Holandês que não parava de lhe tirar “fotografias”. Tomado banho fomos á procura do jantar no restaurante ao lado do albergue, onde mandamos vir uns bifinhos que foram devidamente avaliados pelo Mário, não demoramos muita a ir para a cama porque o dia mais uma vez tinha sido longo e o seguinte não seria melhor. Já deitados pudemos assistir a um belo concerto de “motosserras” que estavam alinhadinhas, dasss… o que valeu foi o cansaço que tínhamos.
Dia 4
Dia 21/06/2011 a alvorada às 06h00, o dia ia ser longo o mais longo de todos e era importante partir cedo para a jornada.
Tratamos de rapidamente equipar, arrumar as coisas, tomar o pequeno-almoço e preparar as máquinas para partir, tão rápido que me esqueci de retirar do estendal a minha camisa interior, conseguimos sair às 07h00 o que foi bom.
Partimos da localidade de Requejo situada a cerca de 1000m de altitude e começamos de imediato a subir para o alto de Padornelo situado a 1364m, mas para chegar lá….
Quando íamos com cerca de 1k percorrido surge uma bifurcação onde se podia optar entre ir pela estrada ou seguir pelo caminho, o percurso aconselhado para as bicicletas era a estrada, mas nós fomos pelo caminho, meus amigos que bela esfrega que levamos em particular eu com a minha bicicleta tão “levezinha”, a progressão foi feita quase sempre á mão empurrando as bicicletas ou puxando por elas, o caminho nesta ponto era impossível de ser feito em cima da bicicleta, pedra solta por todo o lado algumas de grandes dimensões, vegetação serrada, pequenos ribeiros, valas, vegetação elevada, era difícil circular caminhando a pé quanto mais de bicicleta
Chegamos ao alto bem tratados ao fim de 01h08m e 8k percorridos, sim 8km percorridos, revelou-se de extrema importância termos optado por deixar esta parte do caminho para a parte da manha deste dia, se o tivéssemos feito no dia anterior á tarde seria uma tortura. Chegados ao alto de Padornelo e depois das habituais fotos de imediato demos inicio á descida onde iriamos passar por um rebanho de cabras que andava em pastoreio, a progressão era agora muito mais rápida, a descida de Padornelo era feita passando por algumas pequenas povoações com casas em pedra onde raramente vimos alguém.
7km depois de termos dado inicio á descida chegamos a Lubián, onde depois de pararmos para mais umas fotos nos preparamos para outro “caramelo” o alto de A Canda, para lá chegar teríamos pela frente 4km onde iriamos passar dos 948m aos 1250m, esta subida fez se sem grandes problemas e pudemos usar a bicicleta para a transpor ao contrário da primeira, a descida de cerca de 8km é feita sem problemas mesmo passando por traiçoeiros caminhos revestidos com lajes de pedra, todo o cuidado era pouco, rapidamente a descida iria ficar para trás e voltávamos a subir, esta etapa tal como previsto era um autentico “carrossel” com cerca de 45 km percorridos neste dia 21/06/2011 a paisagem era agora completamente diferente daquela que encontramos quando no dia 19/06/2011 demos início ao caminho em Salamanca a vegetação e os pequenos ribeiros eram agora presença constante, embora em algumas zonas, aqui ou ali as pedras e a vegetação seca marcassem presença, a manhã tinha passado rapidamente e ao avistarmos a localidade de A Gudiña pensamos de imediato no almoço o relógio marcava 12h35, após alguma procura lá optamos por um restaurante no fim da localidade onde existia a possibilidade de comer no exterior e ficar a ver as “máquinas”.
Enquanto o Mário punha a escrita em dia (quero dizer negócio), o resto do pessoal devorava tudo o que aparecia em cima da mesa, (ela era negra). Já com o Mário sentado o almoço começa a ser servido e nós rapidamente tomamos conta da ocorrência, pouco depois já estávamos bem comidos e bebidos (águas e Coca-cola), pagamos a conta e às 13h15 já estávamos de volta ao Caminho, o período da tarde começava com uma “descidinha” acentuada que rapidamente nos fez sair dos 957m para os 872m, quando chegamos ao final da descida dois caminhos optamos por seguir pela esquerda apesar do GPS dizer que era pela direita, mais tarde acabaríamos por ver que o dito aparelho tinha razão, mas como tudo o que desce acaba por subir, damos de caras com uma subidinha jeitosa logo a seguir ao almoço para ajudar a digestão, o calor não dava tréguas, fim de subida e já estávamos outra vez acima dos 900m, reagrupamos e entramos dentro de uma pequena povoação com uma “piscina”, pronto não era uma piscina, era uma fonte com um espaço que em tempo creio que era utilizado para lavar roupa, mas que naquele dia serviu para min e para o Mário tomarmos um belo banho sob o olhar das gentes locais.
Terminado o banho tratamos de pedir informação junto da população local, o objectivo era saber se estávamos a seguir o caminho certo, porque o GPS continuava a dizer que não, a resposta veio confirmar que o aparelho tinha razão, grande bronca estávamos no Caminho da Prata e não no Caminho Sanobrés, o dia ia longo e o caminho certo há muito tinha ficado para trás.
Depois de tirarmos mais umas fotos incluindo algumas com as gentes locais,
tratamos de rapidamente procurar o caminho mais rápido para o trilho certo, aproveitando a informação recolhida decidimos seguir um período por estrada para podermos recuperar tempo e assim chegarmos em tempo útil ao Caminho correcto, era necessário apontar rapidamente á localidade de Laza, entramos na estrada e depois de algum sobe e desce iniciamos uma longa descida que nos fez sair dos 900m para os 460m, chegamos por fim a uma localidade com o nome de Verin, aproveitamos para abastecer de água e lavar as bikes, colocamos a moeda de 1€ e eu de forma desenfreada começo a lavar as bikes com a ajuda do Jonas, uma a uma sempre a abrir, os minutos passam, 1,2,3,4,5…. e a água não parava, todos pensávamos que a lavagem estava avariada, mas puro engano, foram cerca de 8 minutos, sim 8 minutos, pensamos logo na roubalheira que são as lavagens “Tuga”. Com as máquinas lavadinhas e os depósitos de líquidos cheios com água fresquinha retomamos a marcha acelerada em direcção ao trilho certo, pouco metros depois de arrancarmos o Nuno repara numa loja de bicicletas e como estava a precisar de um bidon e o óleo que tínhamos para a corrente estava a acabar paramos para adquirir as duas coisas. De novo na estrada para mais alguns km a rolar a boa velocidade até finalmente encontramos de novo o trilho certo em Laza, chegados a esse localidade seguimos mais um pouco e paramos de novo numa localidade chamada Soutelo Verde para molhar um pouco os pés e lavar a cara num pequeno ribeiro que passava dentro da povoação, o calor continuava a apertar e era preciso refrescar, o Nuno que durante os km que fizemos em estrada já tinha prevenido a rapaziada que iriamos ter mais uma “subidinha” e que era tramada, voltava agora a chamar a atenção para a dita subida.
Refrescados voltamos a pegar nas “bichinhas” o dia já ia longo tínhamos começado a jornada às 07h37 estávamos perto das 17h00 e o dia estava longe de terminar, tínhamos como objectivo chegar a Ourense até ao fim do dia, não podíamos facilitar. Pouco depois de retomarmos a marcha a estrada começa a empinar, primeiro uma estrada cimentada que rapidamente é substituída por uma ingreme subida “a pique” coberta de pedra de xisto boa para rapazes cheios de técnica (como eu), após cerca de 1km o caminho fica largo com alguma pedra solta á mistura e menos inclinado onde se aproveitou para reagrupar, o martírio parecia ter terminado, puro engano, um pouco mais á frente o caminho volta a ficar estreito, técnico e inclinado muito inclinado, com mais uma parede pelo frente foi preciso cerrar os dentes e juntar todas as forças que tínhamos para a ultrapassar, um a um fomos chegando ao alto do Monte da Travessa, assim é chamado o martírio que tínhamos deixado para trás, reunimos em frente de uma carroça de madeira que no alto da subida servia de placa para anunciar o “ Rincon del Peregrino a 500m BAR “, tiramos a respectiva foto junto daquilo que naquele momento mais nos parecia uma miragem.
A subida tinha deixado as suas marcas e só pensávamos em beber algo fresquinho, rapidamente nos pusemos a caminho para logo depois encontrar o bendito Bar e parar novamente para o merecido reabastecimento. Encostadas as máquinas entramos num local repleto de originalidade, as paredes do Bar são todas cobertas por Vieiras que cada peregrino preencheu com o seu nome e mensagem sendo depois fixadas pelo Sr. Luís Sandes o proprietário ao qual pedimos o habitual abastecimento liquido (água, Coca-cola e Aquários.
Depois de pedirmos as bebidas saímos e a convite do Sr. Alcaide da região que já se encontrava no local a quando da nossa chegada partilhamos com este a mesa que estava no exterior, para acompanhar as bebidas vieram uns amendoins e assim passamos cerca de quinze minutos em amena cavaqueira com o Sr. Luís e com o Sr. Alcaide (desculpem não me lembro do nome do homem)
A conversa estava boa mas tínhamos de seguir caminho, entramos para deixar a nossa mensagem na tradicional Vieira que foi fixada na parede do Bar pelo Sr. Luís, quando pretendíamos pagar fomos informados que o Sr. Alcaide gentilmente pagou a despesa, claro que tratamos de agradecer o gesto e tentamos retribuir sem sucesso. O relógio não dava tréguas e marcava 18h00, feitas as contas ainda nos faltava percorrer 42 km para alcançar o destino do dia a cidade de Ourense, feitas as despedidas ficou o desejo de voltar um dia, com o retomar da marcha voltamos a subir até alcançar o alto do Monte Talariño com 970m de altitude, no alto uma enorme cruz de madeira sinaliza o local, motivo para mais umas fotos.
Pouco depois damos início à descida até à localidade de Vilar de Barrio onde chegamos pouco depois para passar directo, entramos de seguida num grande vale situado a 640m de altitude e eis que o azar bate á porta do Jonas que tem um furo que obriga a paragem para reparação. Reparado o furo retomamos a marcha aproveitando o vale plano para impor um ritmo mais forte porque se antes do furo já estávamos com pouco tempo para chegar antes de anoitecer, agora ainda tínhamos menos. Passado o vale começamos de novo a subir, apanhamos então um trilho muito engraçado de se fazer onde a vegetação abundava, mas onde a certo ponto encontramos uma zona cheia de lama (e mais alguma coisa), eu ia á frente e ainda tentei passar e fiquei atolado o resto do pessoal optou e bem por contornar o local, como resultado fiquei todo cheio de lama e optei por ir atrás dos restantes, a subida continuava não era muito inclinada mas era a subir e acabamos por atingir os 748m, após este ponto era sempre a descer até Ourense (dizia o gráfico) mas ainda faltavam 24km até Ourense e já eram 20h00. Começamos a descer de novo, por um trilho muito giro de fazer onde o Nuno pode constatar toda a minha técnica de descida com a “Berlie”, a descida prolongava-se até chegarmos a Xunqueira de Ambía onde passamos tão devagarinho que uma “xica que estava na esplanada de um café até se chegou para trás e ficou a olhar para quatro malucos que passavam a abrir com mochilas a alforges (seria uma corrida?). Com a malta a dar o que tinha e não tinha os km pareciam nunca mais passar mas passavam, chegávamos á localidade de Pereiras e depois ao polígono industrial de San Cibrau onde um maluco num AX quase nos passava a “ferro”, seguíamos agora por estrada até chegar ao Alto do Cumial daqui já víamos Ourense e pouco depois estávamos a alcançar as primeiras casas da cidade a entrada em Ourense é feita quando o relógio já passava das 21h30. A primeira paragem foi para lavar a bike numa estação de serviço, depois rapidamente fomos procurar um local para comer, encontramos uma Pizzaria “manhosa” que dado o adiantar da hora teria de servir, enquanto pedíamos as Pizzas o Mário tomava “banho” na casa de banho da Pizzaria, após uma longa espera lá chegaram as Pizzas que pareciam compradas no Lidl e aquecidas no microondas. Após o “magnifico” jantar, montamos as luzes nas bikes e fomos á procura de sitio para dormir que dado o adiantar da hora (22h30) teria de ser um Hotel ou pensão, conseguimos arranjar dois quartos num Hotel a um preço em conta, o dia tinha começado às 06h30 e terminava às 23h30 com um belo banho e a seguir cama, que belo tratamento.
Dia 5
Dia 22/06/2011 alvorada às 07h00 para tomar o pequeno-almoço no Bar do Hotel e arrancar para o último dia no caminho, o objectivo Santiago de Compostela estava a 116km pela frente mais um longo dia com muitas horas de selim pela frente. A primeira etapa deste ultimo dia deveria levar-nos até á localidade de Cea seriam 22km onde as principais dificuldades estariam logo nos primeiros km. A saída é feita pelo meio da cidade de Ourense onde graças ao GPS lá nos conseguimos orientar com relativa facilidade e sair sem problemas depois de atravessar a ponte sobre o rio Minho onde aproveitamos para tirar umas fotos, logo á saída de Ourense começávamos a subir e que subida passou se dos 180m aos 435m em pouco mais de 2km, apesar da toada calma com que foi abordada a subida inicial o esforço necessário para a ultrapassar foi intenso e obrigou nos a retirar os coletes vestidos para fazer frente ao frio da manhã, a subida era um misto em de pavé do Paris Roubaix misturado com os muros das clássicas Belgas com ruas estreitas casas em pedra e um ou outro largo enfim um mimo.
Ultrapassada esta primeira dificuldade os trilhos eram acessíveis, alguns bem engraçados, gostei bastante de um pelo meio de uma mata com vegetação abundante e pedra solta aqui e ali, ao fim de 25km estávamos em Cea onde paramos para carimbar a credencial e comprar umas peças de fruta numa pequena loja que era gerida por Portugueses. Depois de trincadas as peças de fruta seguimos de novo caminho a paisagem era em tudo idêntica ao que tínhamos visto no resto da manhã, pouco depois de sairmos de Cea de uma das vezes em que foi necessário passar pela estrada de alcatrão somos surpreendidos por uma manada de vacas que muito vagarosamente se passeava estrada fora obrigando-nos a progredir com calma para não assustar os animais ao passarmos, o Mário aproveita para tirar as medidas e avaliar a qualidade dos exemplares á medida que íamos passando por eles. Retomamos os trilhos e uns 8Km mais á frente voltamos ao alcatrão eis quando surge no horizonte um enorme Mosteiro sinal de que tínhamos chegado a Oseira, antes e depois do mosteiro paramos para as habituais fotos
Logo a seguir à passagem pelo mosteiro de Oseira começamos de novo a subir. A subida na sua fase inicial era em cimento e apesar da sua acentuada inclinação progredia-se de forma aceitável. O pior foi a seguir. Ultrapassados os 500m iniciais a subida de Oseira passou a ser feita por um trilho estreito com pedra solta ou não, algumas de grandes dimensões e espaçadas. O trilho era ladeado por muros de pedra e densa vegetação e foi um autêntico martírio ultrapassar os restantes 1,5km.
O Nuno tinha parado no início da subida para tentar solucionar um problema mecânico na sua máquina e ficava para trás, como eu tinha o “animal” mais pesado segui mais a companhia do Jonas, o Mário ia mais á frente e aguardava a meio da subida onde viríamos a aguardar juntos pela chegada do Nuno, o problema mecânico persistia e foi necessário recorrer ao creme para as virilhas para solucionar a coisa. A avaria na máquina do Nuno e a subida tinham-nos “custado” mais ou menos uma hora, eram agora 12h14 e faltavam ainda 80km para o destino final e já estávamos outra vez acima dos 700m, não podíamos facilitar se queríamos chegar de dia a Santiago de Compostela. Continuamos caminho e continuamos a apanhar alguns “petiscos” pequenos trilhos para se fazer a pé em que o chão de pedra e as paredes estreitas de pedra dificultavam a progressão das bikes em particular a minha ( não sei porquê... ). O sobe e desce constante com a alternância entre trilhos e pequenas incursões em estrada asfaltada depressa nos faz deixar a província de Ourense para traz e entramos na província de Pontevedra onde a primeira localidade é Agouxa, a passagem por pequenas povoações era costante, e o piso começava a ter uma característica muito curiosa, parecia “mer..”, cheirava a “mer…” e era mesmo “bosta”, os animais das pequenas vacarias que existiam na zona passeavam certamente pelos trilhos onde nós agora estávamos a passar, todo o cuidado era pouco para evitar as “minas”. O tempo passa a correr e a hora de almoço começava a passar, tínhamos de parar o quanto antes para carregar baterias. A escolha por estas paragens não era muita por isso paramos no primeiro que achamos com algumas condições, a quantidade de viaturas era significativa por isso devia ser mais ou menos, a ementa era à base de grelhados e acabamos por optar por uma grelhada mista. Despachado o almoço lá voltamos de novo ao caminho 14h49 ainda faltava 57km para o destino, passados 2km iniciamos uma fase de descida que no fez finalmente sair da cota dos 700m para os 500m, iriamos continuar no “carrocel” o sobe e desce era constante embora estivéssemos agora a uma altitude um pouco mais acessível, na paisagem surgiam agora com mais frequência as pequenas povoações “habitadas para variar” as zonas de Serra pouco habitadas ficavam definitivamente para trás e gradualmente iriamos atingir uma cota a rondar os 300m de altitude, os percursos menos técnicos e menos exigentes em termos físicos permitiam imprimir um ritmo um pouco mais “acelerado”.
Estávamos no ultimo dia e tal como nos anteriores o tempo para terminar a etapa não abundava, creio que fomos demasiado ambiciosos na distancia diária a percorrer e neste ultimo dia a hora de chegada ao destino era ainda mais importante pois a Catedral e respectivos serviços de apoio ao peregrino tinha horário para fechar e uma vez fechados esses serviços não seria possível obter a Compostela. A ordem era portanto a de dar “fogo á peça” a passada forte permitia galgar km pelo trilhos pouco técnicos com que agora eramos brindados, no entanto existia sempre o cuidado de impor um ritmo que fosse possível seguirmos todos com o “conforto” possível, a passagem por uma ponte romana a meio da tarde foi sem dúvida um dos momentos altos do dia e foi motivo para mais uma sessão de fotos.
De seguida mais uma subidinha em calçada romana onde foi preciso puxar dos galões para depois voltarmos aos trilhos cada vez mais misturados com curtas passagens de ligação em asfalto e ou por dentro de povoações. A chegada das 18h00 traz um momento engraçado, depois de termos concluído uma bonita descida em direcção a uma ponte sobre o Rio Ulla passamos por um numeroso grupo de peregrinos Portugueses que seguiam a pé o seu caminho para Santiago. O alerta aos peregrinos da nossa aproximação foi feito pelo som do meu apito quando os passamos e cumprimentamos em Português a euforia foi total e os comentários mais que muitos “olha são Portugueses…”, “vão chegar antes de nós…”, enfim nós “Tugas” estamos mesmo em todo o lado. A seguir à ponte mais uma subidinha com paragem curtinha logo de seguida para mudar a “água às azeitonas” e comer uma barrinha.
O caminho está perto do final. Santiago está agora a apenas 17km e nesta fase final do percurso a escolha de um trilho que apesar de sinalizado nos fez sair no meio de um monte de silvas e à beira de uma estrada bem movimentada obrigou-nos a um ligeiro desvio. A barriga começava a dar horas e era necessário abastecer. Um café na beira da estrada serviu perfeitamente para o efeito, com o ataque a umas miniaturas de bolos acompanhados de Coca-Cola e claro Aquários. Repostas as energias era necessário voltar rapidamente ao caminho o relógio marcava 19h49 não havia tempo a perder, estávamos perto “cheirava” a Santiago apesar das muitas horas de bicicleta que tínhamos a vontade de rapidamente chegar superava todos as dificuldades, o sobe e desce teima em acompanhar-nos até final mas neste km finais pouco ligamos a isso tudo passa com um sorriso nos lábios.
A passagem por baixo da Auto Pista A9 deixava nos com a Catedral de Santiago no horizonte. Faltavam nessa altura 4 km que rapidamente foram deixados para trás pouco depois estávamos dentro de Santiago de Compostela mas nem aqui deixava de haver subidas e os últimos metros até à Catedral eram em subida, finalmente e depois de termos saído às 07h00 cerca de 15 horas depois ás 20h50 chegamos às proximidades da Catedral rapidamente fomos á procura da Oficina do Peregrino, na porta um simples papel informava que a Oficina fechava ás 21h00 deixou nos com um enorme sorriso.
Momento de emoção e sentimento de missão cumprida para todos com a troca sentida de um forte abraço entre todos, eu o Jonas o Nuno e o Mário tínhamos conseguido terminar o Caminho. Arrumamos as “bikes” á entrada da oficina e fomos tratar da Compostela, mal entramos a Oficina fecha, teria sido frustrante terminar o Caminho e não levar a Compostela mas felizmente isso não aconteceu. Minutos depois já com as Compostelas fomos em direcção á Catedral de Santiago para as habituais fotos em frente da mesma
Infelizmente não pudemos aceder ao seu interior porque já estava fechada, mas mesmo as fotos em frente da Catedral ficaram “manchadas” por uma ocupação da Praça em frente da Catedral por um grupo de jovens manifestantes que ai tinham acampado, mas mesmo assim cada um teve o seu merecido momento de glória. Terminadas as fotos era necessário garantir os “recuerdos” e lá conseguimos encontrar uma lojinha aberta com uma senhora muito simpática que lá nos atendeu. Já meio de noite seguimos em direcção ao carro que tínhamos deixado em Santiago no início da jornada.
Pelo caminho ainda tive tempo de acertar com os alforges numa Vespa que estava parada num passeio que por pouco se aguentou de pé. Pouco passava das 22h00 quando começamos a carregar o carro para regressar a casa, graças a muita perícia e paciência coube tudo e bem arrumadinho o Jonas dizia satisfeito que tinha mais espaço atrás. Viatura arrumada a rapaziada veste-se e tratamos de ir procurar alguma coisa para comer sem se perder muito tempo, com alguma dificuldade convencemos o Mário para irmos ao Mcdonalds. A táctica foi o frango, 4 tabuleiros bem aviados chegaram para abastecer a rapaziada, Hambúrgueres, asinhas de frango, saladas, batatas fritas, gelados, Coca-Cola, etc… tudo suplementos do melhor, rsrsrsrsr.
Bem comidos e bebidos era altura de regressar a casa, passava já das 23h30 quando iniciamos a viagem de regresso com o Nuno ao volante até chegarmos a uma bomba de combustível ainda em Espanha onde paramos para abastecer, retomada a marcha seguimos em direcção a Portugal depois de passarmos a fronteira ocupo o lugar do Nuno ao volante para uma jornada “Non Stop” até Mafra onde chegamos por volta das 04h30 de dia 23/06/2011.
terça-feira, 30 de agosto de 2011
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Está a ser giro o "pequeno passeio"!
ResponderEliminarSe deu tanto trabalho a fazer como está a dar para publicar então parece que sofreram um pouco...
Brincadeiras à parte está a ser fantástico!
Mas que belo relato. Tantos detalhes. João,
ResponderEliminarguardaste tudo de memória?
Retenho algumas palavras: caramelos e calor!
Que dureza de empreitada. Parabéns e aguarda-se o próximo capítulo.
Jorge Ginja
Boas Jorge,
ResponderEliminarNão tenho lá muito jeito para a escrita e para resumir ainda menos, sim tenho boa memória em particular daquilo que gosto, é claro que cerca de 700 fotos, 16 videos e um GPS que permite gravar o percurso e visualizar depois com todos os dados e mais alguns ajudam a reavivar alguns esquecimentos...
Espero ter conseguido transpor em escrita parte da nossa aventura.
Abraço
Tá boa a cronica,e que coça que são estas travessias.
ResponderEliminarEstá a ser emocionante seguir.Venha mais.
Boas
ResponderEliminarJá tou cansado...
As fotos foram carregadas em HD.
ResponderEliminarClicando nas mesmas dá para aumentar o tamanho e fazer zoom.
Sublinho o que já disse. Belo relato.
ResponderEliminarSente-se o esforço envolvido no atingir do objectivo proposto.
Belas fotos.
A dica do apito está bem vista.
Jorge Ginja
Lindoooooooooooooo Relatooooo, a malta em outubro tb ker fazer os caminhos de santiago, http://proximaventura2.blogspot.com
ResponderEliminarBoas
ResponderEliminarsim ta fix, parabens pra voces!
abraços