quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Crónica de uma morte anunciada


Ainda há por aí anjinhos que acreditem no ciclismo limpo?

Não?

Ainda bem porque o ciclismo profissional está condenado a um fenómeno que será o dos vencedores provisórios e permanentemente sob suspeita. A vitória será homologada após um pacto de silêncio do tipo "até que a morte nos separe" porque nesta "porcaria" nunca mais ninguém vai mexer.
Como? Por exemplo, dois anos depois todas as amostras perdem valor de prova...

Acreditem, depois de ver Alberto Contador suspenso, Ezequiel Mosquera e David García Dapena (seu colega de equipa) darem positivo na última Vuelta, tudo isto no mesmo dia, DÁ MESMO PENA! Só me resta pensar que para a hecatombe ser perfeita só falta o Cancellara dar positivo.
E não me venham dizer que Contador acusou 400 vezes menos do que os testes da UCI detectam porque o mal já lá está, porque para quem investe e faz com que este desporto ande para a frente a contaminação já alastrou.

Podemos ser advogados do diabo e justificar que os outros desportos não são melhores, que os espanhóis são como o vento (de Espanha nem bom vento nem bom casamento...), que isto é uma perseguição a profissionais que mudaram de equipa, que o risco de doping não compensa, que o bife que o Alberto comeu (espanhol claro está) é que estava contaminado e que, cruzes credo, nunca, em momento algum seria possível algo do género suceder. Chegamos sempre à mesma conclusão:
- Ciclismo que futuro? Máquinas a correrem e a baterem records?

Acredito plenamente que o ciclismo como fenómeno comercial passa cada vez mais pelos grupos de domingo e pela superação própria, por fazer hoje 30 km´s e amanhã conseguir 31, por uma percepção de que o movimento do pedaleiro é apenas um prolongamento do nosso corpo e que chegar ao fim de uma etapa é prémio suficiente.

Quando as marcas apostarem no ciclismo como meio de promoção de saúde pública e não como uma "promoção e corrida" a produtos farmacêuticos, pura utopia - bem sei..., chegaremos à essência do desporto - proporcionar mais qualidade de vida ao ser humano e não destruí-lo!

Acredito que os meus colegas de jornada, nas minhas saídas domingueiras, quando chegam à minha frente o fazem porque trabalharam mais ou porque simplesmente são melhores em condições de igualdade de circunstâncias de treino. Hoje, na elite deste desporto haverá sempre alguém que pode levantar a suspeita de que não é bem assim...

1 comentário: