domingo, 11 de abril de 2010

Rescaldo n.º 2 da volta de 11/04/2010

Como me atrasei a sair de casa tive de optar por ir de carro até à Venda do Pinheiro, caso contrário tinha de ir a fundo para não perder o comboio. Em casa do Rocha ultimámos os preparativos e com algum frio à mistura começámos a lutar contra a inércia que teimava eu não querer soltar os músculos.
Logo na primeira fase encontramos um trio ciclista que tinha estado na volta dos street-racers e que prometeu (pelo menos em parte) aparecer um dia destes para uma volta com o grupo.
Até Bucelas em ritmo de aquecimento comigo preocupado com o facto de a temperatura corporal não ser a ideal para nos fazermos à longa súbida para o Forte de Alqueidão. Com a pausa para café as coisas não melhoraram e para nossa surpresa passa o Salvador dos Pinas que nos diz que já havia pessoal para a frente...
Em ritmo muito moderado começamos a andar na expectativa de sermos alcançados pelo grande pelotão. Para nossa surpresa este era grande mas apenas na vontade de andar acelerado. Na frente a meter andamento um elemento que desconheço mas que deixou boas indicações na vontade e voluntarismo com que fez a maioria da súbida.
A nossa estratégia seria a de irmos ajudar à festa do ciclismo mas como habitualmente somos uma minoria ficámos desde logo apeados porque com tão pouca gente não faria sentido grande estratégia defensiva e muito menos quando constatei que ninguém queria render o homem que estava sujeito a maior desgaste. Era hora de mostrar que atitude não é só teoria e que quando dizemos que vamos ajudar ao bom desenrolar de uma clássica onde somos convidados e bem recebidos não nos fazeemos rogados em desempenhar o nosso papel, seja ele pequeno ou grande!
Assim passei para a frente e meto passo ligeiramente mais acelerado. Até ao final da súbida em crescendo ligeiro e no topo lanço a descida a grande velocidade. Tão grande que quando dou conta já levo cerca de trezentos metros isolado. Não sabia o percurso pelo que abrando e solicito companhia. O Freitas e o Xico aceleram e vêm ao meu encontro. Estava formado o primeiro trio de fuga.
Na passagem pelo Sobral meto novamente passo e no topo sinto o Freitas a queixar-se do andamento... Na descida aceleramos e seguimos em ritmo de fuga. Aqui dá-se o incidente que viria a limitar o resto da volta. Numa curva mais apertada o Xico tem problemas com os pneus e quase que caimos os dois. Neste processo perdemos preciosos segundos e quando nos juntamos novamente estavamos à vista dos perseguidores. O Freitas prefere abrandar e deixar calmamente que sejamos interceptados. Em face do que foi o desenrolar de toda a volta se tivessemos continuado acredito que dificilmente seriamos alcançados, e mesmo que assim fosse as despesas que isso acarretaria eventualmente condicionariam o fracionamento em vários subgrupos.
Até Torres a única relevância foi a fuga do Freitas, que fiz questão que se concretizasse quando à frente impedi que se fizesse de imediato a perseguição. -Para surpresa do fugitivo que no inicio virava muitas vezes a cabeça para observar o comportamento do pelotão. (Alguém tem dúvidas de que para a brincadeira domingueira foi a melhor decisão e de que estas iniciativas deveriam ser mais vezes toleradas em grupos com mais de uma dezena de elementos?)
Em Torres Vedras a diferença já era significativa e na súbida imediata, para Casal da Boavista, iniciada pelo Carlos Gomes, vejo-me na contingência de assumir as despesas quando o Gomes me estende a passadeira e tira o pé. Na parte final atendo o telefone (era o Dario!!) e fica o pessoal algo estranho quando lhe digo para vir ter connosco.
O fugitivo perdia nas súbidas mas defendia-se bem a rolar e ganhava tempo a descer. Em direcção a A-dos-Cunhados meteu-se passo doble com tudo agarrado à roda do elemento precedente. Aqui pelo relevo perdemos contacto visual com o Freitas e houve alturas em que pensámos de que tinha optado por outro percurso visto que o nosso ritmo era bem elevado e não o viamos.
Até ao Vimeiro estabelecemos contacto visual e assim já dava para verificar diferenças. Na aproximação a Santa Rita alguns topos ajudaram à perseguição e no caroço salta o Xico no encalço do fugitivo. Não havia liberdades pelo que rapidamente lhe fecharam o espaço. Aqui as pulsações elevaram-se e na saída vento de frente! Desta vez o Gomes redimiu-se e fez um excelente turno até Santa Cruz onde de bom grado o rendi já com o fugitivo plenamente controlado. Meto mais uma vez passo e apanho o fugitivo.
Depois da Silveira tento condimentar novamente a volta. Tentei forçar para poder sair a solo mas não me cederam espaço. Quem não se fez rogado foi o Rocha que assim que lhe deram alguma liberdade arranca e leva o Freitas na roda. Ganhou muito espaço e tempo demasiado rápido e com desperdício de energias que lhe iriam ser necessárias. A perseguição no seio do pelotão ficou a cargo do Gomes que com calma foi gerindo a aproximação. Na súbida para São Pedro da Cadeira já com o Rocha descolado do Freitas o trabalhador de serviço diz-me que tem uma cãibrea e cede-me novamente o azedo lugar da frente. O Xico avisa-me de que está nas últimas e eu decido fazer-me um último turno até à base da Picanceira visto que a partir daí já não era para o meu estado. Passo o Rocha e dou-lhe um empurrão para vir na roda e faço a perseguição ao Freitas sempre em pedaleira grande e sem olhar a despesas. Na passagem pela encarnação vinha o Ricardo e o André na minha roda com o resto do pessoal em dois ou três grupos separados por metros. O PP aos berros e um levantar para que eles fechassem. Novamente e até entrar na súbida da Picanceira com o fugitivo à mão de semear onde comunico aos nossos de que tinha acabado a gasolina... O Rocha decide ficar comigo e partilhar a súbida!
Levamos um terceiro elemento desidratado connosco e no Gardil paramos para agrupar junto do PP e do Freitas. Trocaram-se cumprimentos e esperou-se pelo Xico. O resto foram quatro carroças desalinhadas a subir Vila Franca do Rosário...

Dos que chegaram na frente não nos interessámos muito, sinceramente! Pela forma como abordámos o desenrolar da clássica a nossa atitude atirar-nos-ia sempre, mais cedo ou mais tarde, para este desenlace. A luta foi intensa e leal mas a parte final para ser bem gerida implicaria atitudes mais defensivas e calculistas que nenhum de nós estava em condições de aplicar, tal como custuma suceder nas nossas voltas em que chegamos normalmente "bem tratados" e sempre agrupados. (O PP chegou, inclusivé, a pedir-nos desculpas por não ter conseguido chegar à súbida final na frente enquanto partilhávamos uma cola no Gradil).
Independentemente de tudo, aquilo que certamente vai perdurar na memória foi a fuga do Freitas, a nossa caçada e por fim o belo do tratamento e as risadas intermináveis. A todos obrigado pelo domingo e aos nossos digo ainda - Foi um privilégio!

NOTA: A parte final da crónica foi alterada por uma questão de elementar justiça!

11 comentários:

  1. boas people,estes rescaldos têm tudo a ver com as vossas caras,e cadências quando passei por voces na Picanceira de carro vindo dos Arneiros.Pelotao esfrangalhado,tudo em grupettos a mostrar que muita guerra,ou colheradas de ciclismo ja se tinham passado.Parabens,é mesmo assim.
    Em relaçao ao meu domingo,tenho de pegar no 1º rescaldo e nao quero a carroça,só as orelhas de burro.Apresentei-me nos Arneiros com muita fome de btt,muita mania que tenho muita tecnica e ainda pior muita pouca humildade,resultado:monumental tralho ao km 4(numa maratona de 70)pior que a queda,entortei o apoio do desviador e as pastilhas de travao a fazerem um cagaçal no disco,nem sei ainda porquê.meia volta à carroça e casa,pa lamber feridas..Parabens ao Sergio,Jonas,Ruka e Joao(fantastico o 4º lugar) e ao pessoal do alfalto tambem,claro.
    ja agora o que é que faz crescer a carne e pele rapido,faltam-me aki umas lascas na lateral direita.

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  2. Pedrix perguntei por ti no outro topico mas pela conversa já vi que tás bem,são ossos do oficio,só acontece a quem anda,as melhoras.

    Manso é preciso não eskecer que fazemos a volta com um menino que fez 6ºlugar no dia anterior no meio dos prós,seu nome André,é sinal que para domingueiros não se anda assim tão mal!!

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  3. Pedrix,
    Parece-me que foste vítima da ansiedade! 1ª saída do ano, muita vontade de mostrar serviço...

    Quando passaste por nós de carro acredita que a tua cara mostrava mais penar do que a nossa.
    "No passa nada" No próximo domingo damos-te o tratamento que te faltou neste.

    Abraço

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  4. Boas Rocha,

    O André fez sexto com os prós e 1º de sub 23!
    É um grande atleta mas gostava que tivesse mais disponibilidade para trabalhar nas voltas connosco, os coxos acelerados de domingo...

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  5. olá pessoal,
    Mais um domingo em que esses cranques sofreram á brava!! voces estão muito bem.
    Parabéns companheiros

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  6. Caro Cancellara

    Subscrevo, quase na íntegra, o teu relato descritivo da clássica, mas ficou-me, todavia, algumas dúvidas sobre o conceito de uma ou outra opinião. Nomeadamente, a crítica que repetes, em evidente reforço da ideia: «Da minha parte continuo a achar que as atitudes demasiado defensivas e calculistas não são para as nossas saídas, mas isso são contas de outro rosário...». Bom, sendo um dos visados, impõe-se-me a questão: concretamente, nas clássicas, não deve imperar o espírito de equipa, no seguimento de uma filosofia que a este tipo de voltas prevalece: «Bora aí brincar ao ciclismo!» (obviamente, sem beliscar o desportivismo, que, deves concordar, não esteve em causa).
    Assim, creio que a minha «atitude demasiado defensiva» era a única que se justificava perante o desenrolar da contenda – com o Freitas (Pina Bike) em duas persistentes fugas em significativa parte do percurso. Teria lógica participar no esforço de perseguição? Ou também atacar? Que respeito mereceria do meu parceiro, que se expunha a um desgaste colossal – que toda a gente reconheceu – que desde logo hipotecava as suas «chances» de chegar minimamente em condições ao final da tirada: como eu presenciei, considerando-o perfeitamente natural.
    E eis que surge outro ponto: se apelamos ao espírito de participação, acima do competitivo - como bem dizes, «o mais importante deveria ser participar e concluir o percurso, acima de querer chegar à frente ou apenas não ficar para trás» -, então a clássica não deve ser compreendida como um todo? Ou seja, esta não terminava na Picanceira ou no Gradil, mas sim na Malveira. É fundamental (e consciente) saber gerir o esforço, de acordo com o percurso e as incidências da volta. Por isso, não compreendo o sentido da tua afirmação: «Dos que chegaram na frente não nos interessámos muito, sinceramente!». Pergundo: porquê? Será que a vossa participação termina no momento em que não estão mais em condições de continuar a «estar por dentro»?

    Camarada, não leves a mal. Entende isto como uma análise desportiva pseudo-competitiva, sem qualquer tom depreciativo. Porque vocês foram insuperáveis e foram os únicos que estiveram à altura da combatividade do fugitivo do dia. Só que repito: a volta não acabava no início da Picanceira. E daí em diante, com naturalidade, as diferenças fizeram-se... gigantes! Pelos factores que estiveram bem à vista de todos os que participaram, os mais importantes já aqui referidos. E outros...

    Abraço

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  7. Caro Ricardo,

    Não levo de todo a mal o teu comentário. Pelo contrário! Até considero que te devo um pedido de desculpas pela forma como me exprimi, que saiu completamente fora do rumo que pretendia dar ao relato que acabou em terrenos pantanosos... Queria fazer um jogo com a súbida de Vila Franca do Rosário e com a palavra rosário mas acabei por deixar uma porta aberta para diversas interpretações. As minhas sinceras desculpas a ti e aos colegas de jornada que não mereciam ser maltratados pelo excelente comportamento verificado.

    Refazendo!
    Dos que chegaram na frente não nos interessámos muito, sinceramente! Pela forma como abordámos o desenrolar da clássica a nossa atitude atirar-nos-ia sempre, mais cedo ou mais tarde, para este desenlace. A luta foi intensa e leal mas a parte final para ser bem gerida implicaria atitudes mais defensivas e calculistas que nenhum de nós estava em condições de aplicar, tal como custuma suceder nas nossas voltas em que chegamos normalmente "bem tratados" e sempre agrupados. (O PP chegou, inclusivé, a pedir-nos desculpas por não ter conseguido chegar à súbida final na frente enquanto partilhávamos uma cola no Gradil).
    Independentemente de tudo, aquilo que certamente vai perdurar na memória foi a fuga do Freitas, a nossa caçada e por fim o belo do tratamento e as risadas intermináveis. A todos obrigado pelo domingo e aos nossos digo ainda - Foi um privilégio!


    Daquilo que me conheces reconhecerás que se fosse para criticar que o faria abertamente. Entendo que num "domingo qualquer" deve haver maior exposição ao desgaste por parte de todos os elementos, onde também deves ser inserido, e concordo quando dizes que nas clássicas pode e deve haver espaço para jogos mais estratégicos!

    Abraço
    PS - O convite que te estendi para vires andar connosco mantém-se de pé!

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  8. Caro «Cancellara», não vejo motivos para deixar de considerar o teu (vosso) convite. Aliás, são cada vez mais os que me motivam a aceitá-lo (já o escrevi em comentário no meu blog). E só já não o fiz pela distância/logística que implica.
    Bora aí, convoca a tua malta, terei todo o prazer! Se possível, numa ocasião em que o Dario também possa, porque tenho muito gosto em revê-lo/partilhar a «estrada».
    E repito o que também escrevi, em jeito de brincadeira, no «Conversas»: Traça lá um percurso à minha altura e contarás comigo. A sério, se fosse possível que o traçado passasse, na sua fase terminal, junto a um acesso à A8 (Malveira, Sobral ou na pior das hipóteses Mafra), agradecia. Para que possa estar em casa cerca da 13h00 ou não muito depois.
    Nota: no dia 25 de Abril estarei indisponível.

    Abraço

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  9. Oi pessoal

    Assisti, inicialmente com alguma apreensão, ao desenvolvimento dos comentários do Manso e do Ricardo, e não pude deixar de me congratular pelo desenlace dos mesmos: terminaram como começaram, de forma educada e civilizada onde tudo foi dito e escrito, sem rodeios. Muito bem, é assim que a gente se entende.
    Quanto à estratégia para as clássicas, meus amigos, não tenham pernas não...ou então deixo-vos com esta de Roger H. Lincoln: There are two rules for success... 1) Never tell everything you know.
    ...

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  10. Dario,

    No próximo fim de semana contamos contigo?

    Já estás em condições de voltar à carga?

    Abraços

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  11. Podem contar comigo ! Ainda me sinto um bocado empenado, mas também me faz falta passar pelo sofrimento que vocês passam às vezes...

    Abraços

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