terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Morrer de vergonha!

Há não muitos anos, neste país de gentes pequenas com sentido de estado ainda menor a maior causa de morte foi o "morrer de repente".
As pessoas viviam entregues às suas vidas, com forte presença laboral na agricultura e pescas e os cuidados de saúde/médicos eram precários. Foi assim durante um largo periodo e fazia parte das "regras da casa" perpetuar esta inércia vergonhosa que atirava a esperança média de vida de um português para valores hoje considerados de terceiro mundo.
Nesses tempos idos as pessoas num determinado dia estavam bem, ou vivas e algo adoentadas, e de um momento para o outro simplesmente morriam. O diagonóstico popular era o de "morreu de repente"!
Não havia autópsias e enterravam-se os defuntos prontamente para o cheiro não incomodar em demasia principalmente nos meses mais quentes. Assunto encerrado e luto prolongado às famílias respectivas.
Foi-se a velha senhora e muita coisa mudou. Melhorámos muito em muitos aspectos mas há coisas que infelizmente ficaram, nomeadamente a falta de respeito para com a vida e pela condição humana.
Aceito que o nível civilizacional de um povo se pode aferir pela forma com este educa as suas crianças, pelo modo como trata dos seus idosos e, não menos importante, pelos cuidados médicos que oferece às populações e pelo socorro que presta aos necessitados de auxilio.
Ontem presenciámos um acidente às portas de Torres Vedras. Prestámos auxílio a uma mulher, grávida de 41 semanas, com lacerações profundas múltiplas na cabeça. Telefonámos ao 112, calmamente comunicámos o local da ocorrência, o estado da acidentada e aguardámos uns longos e eternos 25 minutos por socorro.
Tão aflitiva se tornou a espera que um dos nossos foi de bicicleta à procura da tão necessitada ajuda que apenas surgiu porque uma pessoa tinha o n.º directo dos bombeiros de Torres Vedras.
Fossem os ferimentos piores e a vítima teria definhado e com ela, provavelmente a criança que trazia na barriga, demonstrando que neste país já não se "morre de repente" mas ainda se morre de vergonha! Daquela que resulta pobreza de espírito de quem nos governa e determina a qualidade dos cuidados que nos são oferecidos/vendidos através dos nossos impostos.
Vergonha do paupérrimo serviço de coordenação do 112 que não consegue melhor do que nos informar para fazermos pressão na cabeça da acidentada para estancar a hemorragia, num acidente às portas da cidade, com um hospital com unidade de emergência, bem longe do Portugal perdido entre montes e vales com terras que ninguém conhece e aonde ninguém quer ir viver porque é complicado ter acesso determinados cuidados.
A mãe pagou um preço bem elevado por não ter tido os cuidados necessários durante a manobra e principalmente por não ter posto o cinto de segurança! Acalmou-se quando sentiu o movimento da criança na barriga alguns minutos depois do despiste.
Mais um número engrossou as estatísticas dos acidentes rodoviários. Mais um valor incrementado num parâmetro qualquer numa tabela descolorida que será analisada provavelmente sem atender que por detrás de cada um desses números há rostos de sofrimento e há pessoas iguais a nós...

4 comentários:

  1. Manso, desde já deixar o meu profundo agradecimento, pois pessoas como tu, que se importam e que fazem questão de para além de manifestar o seu desagrado também o divulgam, é que me faz ter ainda esperança neste maravilhoso país que infelizmente é governado por "pessoas" sem um mínimo de decência humana, e valores alterados se não mesmo deturpados.
    Assim sendo obrigado pois salve seja poderia ser qualquer um de nós.
    Pedro Ferreira

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  2. Excelente observação Manso. Não ficou nada por dizer. Realmente é espantoso como se espera tanto tempo por auxílio às portas de uma cidade bem equipada em termos de emergência. Depois de quase meia hora à espera, eis que surgem 3 viaturas de assistência médica: um carro de desencarceramento, uma ambulância dos bombeiros e outra do inem. Ou seja, nessa altura alguém devia estar a precisar de auxílio noutro local e não havia viaturas disponíveis. Valeu a valentia da senhora acidentada, que apesar de estar grávida e gravemente ferida, aguentou-se estoicamente. Deixo um recado a todos, é preciso termos coragem de mudar o rumo que este país já tomou há muito tempo: o saque promíscuo a que estamos sujeitos pela classe política desde a esquerda à direita. Vamos dar-lhes um gigantesco voto em branco para abrirem os olhos. É a única forma de mudar algo. Caso contrário é mais do mesmo, e aí meus amigos, parem de se lamentar.
    Abraços

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  3. Boas companheiros,

    A mudança começa em nós! Nas nossas atitudes quotidianas.
    Abraços

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  4. Pois é companheiros,voçês tem toda a razão mas o que se passou no domingo passa-se todos os dias, vai continuar a passar-se e ninguem faz nada, há muita indiferença e muita falta de vergonha neste país a brincar, onde só importam sa novelas o futebol e neste momento as eleições presidênciais e o assassinio de Carlos Castro... que vergonha ! Que fraco serviço! Que falta de querer ser melhor! Que gentinha...
    QUE VERGONHEIRA "!!!!!!!"

    Xico Aniceto

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